Valsa: a rainha das danças de salão
A primeira dança de salão oficial – a Valsa – e a primeira que qualquer aspirante a bailarino aprende, foi apresentada ao mundo em Viena, Áustria, no ano 1776. Curiosamente, uma das danças mais elegantes de todos os tempos teve a sua origem nos dançares tradicionais dos camponeses austríacos!
O primeiro passo
Com algumas adaptações, o folclore camponês tão popular na Áustria e no sul da Alemanha, entra pelos salões de dança como um furação e é imediatamente aceite pela alta sociedade vienense. A Valsa e o seu sucesso seguiram para França (só em Paris chegaram a existir 700 salões de dança!) e depois para Espanha e Portugal. Os portugueses, por sua vez, levaram a Valsa na bagagem da sua corte, quando embarcaram no Brasil em 1808. E assim correu mundo, sendo apresentada aos americanos, em Boston, no ano 1834… onde não foi tão bem recebida.
Ao contrário das danças existentes até então – onde o par dançava separado ou com os braços esticados e as mãos pousadas nos ombros um dos outros – a Valsa implicava um contacto físico muito próximo e, por incrível que pareça, foi desde logo baptizada de “dança proibida” e apontada como uma dança vulgar, ou seja, um autêntico pecado! Este sentimento era ainda partilhado pelo povo inglês, na Europa, onde a aceitação da Valsa foi igualmente lenta.
Por outro lado, a intimidade da Valsa era algo que agradava a muitas pessoas, principalmente aos jovens e, como o “fruto proibido é sempre o mais apetecido”, não houve resistência suficientemente forte para extinguir a dança. Aliás, a sua popularidade e aceitação continuou a crescer ao longo de todo o século XIX por dois motivos: os seus passos básicos eram fáceis de aprender e, segundo escreveu José Ramos Tinhorão, um estudioso da valsa, os salões de dança eram dos "únicos espaços públicos de aproximação, que a época oferecia a namorados e amantes”.
Em meados do século XIX, a Valsa estava simplesmente na moda e praticava-se em todo o mundo, sem excepção! A título de curiosidade, a Valsa acabou por ser destronada e o rótulo de “dança proibida” foi atribuído ao sensual Tango.
Estilos q.b.
Apesar da popularidade inicial da Valsa ter sido confrontada com alguma resistência, a mais conhecida dança de salão de sempre sobreviveu a todas as críticas, mostrando o seu valor nas melhores pistas do mundo. Com o passar dos anos, serviu de base para a criação de outras danças, igualmente populares, e tem ainda diversas variações.
- Valsa Vienesa – a pioneira, dança-se a um ritmo bastante rápido.
- Valsa Moderna ou Inglesa – uma derivação da Valsa Vienesa, dança-se a um ritmo mais lento.
- Valsa Internacional Standard – o par mantém sempre a “posição fechada”, normalmente é apenas dançada em competições internacionais.
- Valsa Estilo Americano – incorpora vários movimentos onde o par deixa praticamente de ter contacto um com o outro.
- Valsa Peruana – muito semelhante à Valsa Moderna, difere na música, que é fortemente influenciada por sons latinos e espanhóis.
- Valsa Venezuelana – os venezuelanos incluíram novos passos e a sua própria música à Valsa clássica.
- Valsa “Cross Step” – tal como o próprio nome indica, esta Valsa inclui um passo especial, que é cruzado.
A valsa também é uma música!
Sem a música, a dança não é nada e talvez uma boa parte do sucesso da Valsa é que ela também tem a sua própria música! Johann Strauss e Franz Lanner (ambos austríacos) foram, sem dúvida, os compositores que mais se dedicaram ao estilo, por volta de 1830, tendo sido também os responsáveis pela melodia mais rápida que acompanhava a Valsa Vienesa. Porém, não são de descurar nomes como Beethoven, Chopin, Brahms e Ravel que, no seu tempo e dentro da sua genialidade, reinterpretaram a clássica valsa. Enquanto música, a valsa seduz pela sua melodia graciosa e sinfónica, e para a qual contribuem instrumentos como o piano, o violino e o baixo.
Para a pista…
A palavra “valsa” deriva do alemão “Walzen”, que significa “girar” ou “deslizar”… nada mais apropriado, tendo em conta que esta é uma dança que incorpora um padrão básico de movimentos – passo-passo-espera – e o resultado é um par de bailarinos elegantes, a deslizar energicamente pelo salão. São as ondulações graciosas, as mudanças rápidas na velocidade do corpo e as elevações nas pontas de ambos os pés, que fazem da Valsa única. Parece difícil? Na realidade não é, porque a Valsa é uma coreografia relativamente simples, baseada num esquema em diagonal, com um ritmo básico, repetitivo e de fácil memorização, que se traduzem em movimentos leves e suaves, executados na pista sempre no sentido contrário dos ponteiros do relógio.